quinta-feira, 29 de maio de 2008

Imperadores do Amor

"Ainda que o tempo desfaça o que sentimos um pelo outro... Ainda que este instante, um dia, seja recordado apenas com ternura. Ainda assim, eu irei lembrar-me que foste tu que me deste o mundo... E, hoje, aqui, juntos, fomos Imperadores do Amor."


O Sol espreita à janela. As roupas continuam perdidas pelo chão. Os lençóis escondem dois corpos e os nossos braços continuam entrelaçados. O nosso respirar já não é ofegante, mas distante, cansado. E o Amanhã acabou de chegar à nossa janela. Abro os olhos lentamente. Olho para o relógio da cabeceira. Não estou pronta para acolher o novo dia, mas, assim tem de ser. Ele continua a dormir, perdido nos meus braços de mulher. Perdido por mim. Tem a cabeça repousada sobre o meu peito e descansa. Ele continua a dormir. Lentamente, levanto-me, sem o perturbar. Levanto-me e olho-me ao espelho. Nua. Nua para a vida. Nua, mas decidida. Sei que não sou a mesma de ontem à noite. Sei que estou consciente de tudo o que fiz e senti. Sei que estou livre. Recolho, peça a peça, a minha roupa espalhada pelo chão. Sento-me no pequeno sofá encostado num canto do quarto. Respiro fundo e começo a vestir-me, sem fazer barulho, para não o acordar. Levanto-me, procuro a minha bolsa, tiro um papel e uma caneta e escrevo. Coloco o bilhete na mesinha da sua cabeceira e decido ir-me embora. Caminho para a porta e agarro o puxador com força, com tanta força. Respiro fundo,respiro coragem. Rodo o puxador, abro a porta, saio e fecho a porta atrás de mim. Fecho a porta que tanto anseio por abrir de par a par, a porta do meu coração.

Ele continua a dormir. O Sol espreitou pela janela e já entrou no quarto sem pedir licença. Ele acorda. Sabe que está sozinho, pois ouviu a porta a fechar-se quando ela se foi embora. Lê o bilhete e sorri. Levanta-se e vai tomar banho. Depois de estar algum tempo debaixo da água corrente, pensa nela. E pergunta-se se será sempre assim... Enxuga-se na toalha branca de hotel. Apercebe-se que terá de vestir a roupa do dia anterior e faz uma careta. Apanha a sua camisa branca do chão e começa a vestir-se. Quando termina, abre a porta e sai.

Depois do almoço, dona Albertina, camareira há dez anos no hotel, entra no quarto 311 para fazer o seu trabalho. Olha ao seu redor e pensa que vai ser um quarto fácil de arrumar. Começa por trocar os lençóis e, no meio da brancura do tecido, surge um pedaço de papel. Curiosa como é, lê o rascunho. Quando acaba, senta-se na cama e chora. Pois é, dona Albertina, o que tem de curiosidade, também tem de romantismo!

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Da minha janela para a tua

Da minha janela para a tua corre um rio que nos separa. As suas águas são profundas e correm permanentemente à velocidade do tempo que nos rodeia. As suas águas são tão escuras quanto os nossos corações. É impossível encontrar-mo-nos no meio de tanta escuridão e, apenas com a chegada do calor, tempo em que o rio apazigua as suas águas ferozes, só aí nos pertencemos.

Da minha janela para a tua mil sonhos e pensamentos navegam pelo espaço. Pedaços do meu coração que lutam e insistem em chegar à tua cabeceira.

Da minha janela para a tua há um mundo a rodopiar, repleto de cores e sinfonias, repleto de perfumes e essências de tudo aquilo que é teu e não te pertence.

Da minha janela para a tua há um rio a transbordar...

quinta-feira, 1 de maio de 2008

A corrupção do tempo

O tempo. O tempo corrompe a nossa vida, feito brisa matinal que se desfaz perante os nossos olhos. Será que o tempo te corrompeu a ti... Será que te esqueces-te de mim, de nós, de tudo o que fizemos, sentimos e vivemos? A ti que disseste que serias eterno... A ti que fizeste promessas de amor... A ti que, afinal, és tão mortal quanto eu!
O tempo. O tempo tem destas coisas... vai passando, dia após dia, meses e anos, que são como oceanos intemporais e, no entanto, tão finitos...
O tempo.O tempo é tão perturbador... Passarei a minha vida pensando em ti; por onde andas, que fazes, com quem estás... incógnitas que me atormentam... respostas que teimam em não aparecer... Como um barco vazio... é assim que me sinto... leve... leve ... num temporal...

Só por hoje ...

Só por hoje ... Te deixarei pegar na minha mão... só por hoje serei tua... só por hoje...

Só por hoje poderemos estar juntos... completos. Partilhando momentos e tempos reais como os nossos sentimentos... como os nossos olhares cumplices, penetrantes, indefesos no mundo... contra o mundo... contra nós...

Só por hoje deixarei as minhas dúvidas à porta do quarto. Só por hoje deixarei cair a minha roupa por terra. Só por hoje te deixarei olhar para mim, inocente... Só por hoje te beijarei com calor. Só por hoje me entregarei a ti e a este sentimento. Só por hoje e nunca mais ...

Só por hoje e nunca mais...